Cais
Na entrada do porto eu desejo um silêncio
do tamanho do mar;
quero uma distância
do tamanho do mar;
espero um abraço
do tamanho do mar;
e um descanso
do tamanho do mar.
Na chegada do corpo eu quero ser uma procura
do tamanho do céu;
escrever um discurso
do tamanho do nada;
usar um disfarce
do tamanho da multidão.
Quando der entrada no porto
este meu corpo cansado e macerado
só espera que a vida tenha esperado
Burgueses
Não me venham, então, durante meses
com estes discursos de folhetins,
essa fala burguesa, que não põe mesa,
mas engravidada de moralismo
e outros ismos, todos burgueses.
Caminho pela rua estreita,
deserta em sua solidão de concreto;
e por não ser arquiteto
estreito o peito
e esqueço a ternura
de uma existência
que, na fartura da ventania,
se pretendia simples e ingênua.