Lobos
O mundo é grande de não se sabê a tampa dele. E nessa grandeza cabe de um tudo, inté isso... o esparrame de vivente de Deus arrevirá bicho lobisome. Seo moço, seo moço... Isso num é assunto mode de caçoada! Eu, por mim, não boto duvidança em riba de nada. Por debaixo da capa sempre existe garapa. O mundo é grande de não se sabê a tampa dele. E nessa grandeza cabe de um tudo, inté isso... o esparrame de vivente de Deus arrevirá bicho lobisome. De´stá que sei por vivê... De tê entrevero com bicho por demais peludo e quase me lascá de um medo que não dá tope de vivente home. Arre, égua! Vôte! Tem muito cabra que num bota fé nisso... Mas eu sei, não de ouvi dizê, que isso vem amisturado em mentiraiadas.‘Credito, inté demais, que vi com esses ói, num tempo em que azoiava pingo de coisa lá nas lonjuras. É de muito agoniá, se esbater com bicho de fora do mais natural. Nem lobo nem home, por demais no desnatural de sê. Aquilo estropiô os nervo por ror de tempo e deixô, de pavoroso, meu quengo ocado por pedaço da vida. É coisa? Hã? Apois bem... A reinação se deu quando eu... Foi numa madrugada de breu e treva... Não, nem lua cheia era... Eu bem que tava escarçoado, arrefugando em ir inté o forrobodó do Zielo. Mas, naquele destempo, eu era afissurado em pagodear, arrastar asa pra rabo de saia... Nem era lonjura muita, num fosse tê de atravessá aquela capoeira que se encurva... É... sim... Beber da Onça... Eu? No de sempre... punhal nos quartos e o parabélum de trespasso no peito. Em nunca que ia podê de ´maginá aquilo que, sabendo sabia, nem podia de tê existência de vera. Ora! Isso era lá conversa de gente? Fui assim, um quê destrenado, seguindo o treiro... Já´stava inté mais em distração quando se deu o furdunço. Arrepiei, que aquilo num era visagem pra mode cristão zoiá em estampa inteirada. Tava lá e, inda hoje, quando fecho os ói, vejo a marmota pavorosa... Por muito po´co num s´esbarrei no coisa. Aquele bicho abufelando um bode, mode bebê o sangue do pobre. Alembro o careteio dele amisturado na sangueira que escorria da boca endentada. Ah, foi um baque! No que deu por eu, soltou aquele urro, como se uivo fosse pra fazê encolhê os cabelos do fiofó. Estatelei sem que fazê, destrenado. Ele deu uma arrefugada e avançô pra riba deu. Num sei a cumo passei mão da parabélum e sapequei bala no ingurgitado. Mesmo naquele escurão, pela distância pouca, sei que os tiros foram mais que certeiros. Hã? Qual o quê, siô. Só deu uma refugada e me avançô em riba, me abarcando pelo gibão. Era força muita que me rebolô longe. No espavorido, alevantei já caçando o punhal prateado... Arreda! Se afasta, satanás! Fi do cão! T‘esconjuro! E foi... Quando dei por mim, já ia longe a abusão, pulando a cancela alta que inda hoje existe. Eu? No que mais, no esbaforido, desbanguelei carreira arretada, de só esbarrar quando emborquei a cara no terreiro aqui da casa. Foi estirão da gota! Arre... O siô num avalie a aflição de... Hã! Bem ali! Tinha o bebedouro do gado... Banhado de suor, sem forgo... A cabeça tinia... Azuado... Tava! Ahhh! O coração em pinotes – buco-buco-que-buco – que quase dei de mim ciência da morte chegando. Hã? Isso num alembro... Foi tudo de supetão, num escurão de dá gastura... Foi, em avexamento, cabeça zunindo de pavô... Des´ isso que num mais cacei moda de andá essas trilha, mesmo quando as noites são por demais aclareadas, mesmo quando alumiadas pela lua que recobre todos nós...